quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Depois do ódio

EXCELENTE ANÁLISE

  Depois do ódio
O ódio 


Em 2014, em artigo em Interesse Nacional, “O mal-estar entre nós”, escrevi, preocupado, que uma coisa que eu não havia visto anteriormente, o ódio, havia surgido entre as elites econômicas brasileiras. Poucos leram esse artigo, mas, em fevereiro do ano seguinte, em longa entrevista a Eleonora de Lucena na Folha de S. Paulo, esta preocupação apareceu no título da matéria, e teve ampla repercussão.

Por que esse ódio? Afinal o governo de Lula nada teve de radical; definitivamente não prejudicou as elites econômicas brasileiras. No artigo do 2014 eu usei como explicação a observação de Claudio Gonçalves Couto sobre o “incômodo” dessas elites, inclusive a classe média tradicional, de encontrarem nos aeroportos e nos shopping centers representantes da classe C. Essa explicação tornou-se, depois, paradigmática, mas hoje quero oferecer uma explicação mais ampla para o ódio na política brasileira.

Jesse Souza está fazendo grande sociologia crítica, como há muito tempo não acontecia no Brasil. E sua crítica se estende aos intelectuais. Seu último livro, “A Elite do Atraso” precisa ser lido. É obra de um intelectual crítico, não de um intelectual-político; ele pensa de acordo com a ética da convicção, não a ética da responsabilidade. Por isso, não é possível deduzir políticas diretamente de sua crítica, que é radical, mas ela obriga a pensar.

Para Jessé, o que define o Brasil é a escravidão. É uma interpretação melhor do que a do “patrimonialismo”, que ele critica porque entende que esta é uma forma de empurrar a culpa do nosso atraso econômico e políticos para o Estado, seus políticos e seus burocratas, deixando a elite econômica esquecida, e do “populismo”, que seria uma forma demonstrar a incapacidade do povo de votar de maneira “certa”. A meu ver, faz pouco sentido explicar a corrupção hoje existente no Brasil com o patrimonialismo; essa corrupção é capitalista, deriva de ser o dinheiro ou o capital o valor maior nesse tipo de sociedade. Quanto ao populismo político – a relação direta do líder político com o povo sem a intermediação dos partidos e ideologias –, ele muitas vezes é a maneira de um povo, por séculos ignorado, atuar na política pela primeira vez.

A escravidão é ainda a marca maior da sociedade brasileira, porque ela durou tempo demais, e porque abrangeu uma grande parte da população, tornando o Brasil um país mestiço. Ao colocarmos a escravidão no centro da interpretação do Brasil, compreendemos porque, objetivamente, a sociedade brasileira é tão desigual, e, no plano subjetivo coletivo, porque o preconceito social e racial é tão grande nas nossas elites inclusive a classe média tradicional.
Conforme afirma Jessé, essa elite despreza povo, porque ela é branca e rica, e o povo é pobre e mestiço; porque ela vê esse povo como gente de segunda classe. Ela prefere se associar às elites dos países ricos, aos seus “iguais”, ao invés de se associar ao povo. Por isso ela rejeita o nacionalismo econômico, que implica uma solidariedade básica da classe capitalista com a classe trabalhadora em torno do interesse comum pelo mercado interno, e adota o liberalismo econômico como ideologia.

Estava essa elite posta em sossego até que, em 1986, o Brasil se tornou um país democrático, ao garantir o sufrágio universal. Os analfabetos passaram a ter direito a voto, associaram-se ao restante da maioria da população pobre, e se tornaram uma força política.  Que escolheu Lula como seu líder.

Vem daí o ódio a Lula. De haver nascido deste povo, e não ter renunciado a ele. Ele poderia tê-lo feito; tantos políticos de esquerda se deixam cooptar. Lula fez acordos, mostrou que não podia governar sem algum apoio dessas elites, e fez o melhor dos seus esforços para chegar a um acordo com elas, mas continuou povo, e isto é indesculpável.

Estará o Brasil condenado ao ódio e ao desentendimento? Não creio, porque a elite brasileira não é um monólito. Ainda que uma minoria, há nela muitos nela que sabem que seu preconceito social e racial precisa ser superado, que o ódio é irracional e insustentável. Uma nação e uma democracia não podem existir sem política, e nela não há lugar para inimigos a serem excluídos, mas para adversários que se respeitam.

O ano que está para começar é ano de eleições presidenciais. É um momento no qual a política precisa estar viva, livre e atuante, com candidatos defendendo programas e ideias, não exercitando o ódio. Assim teremos um presidente eleito democraticamente, seja quem for ele, e o caminho possível, mas difícil, para o depois do ódio, para a pacificação dos espíritos, estará à nossa frente.

Por: Bresser Pereira via Facebook  (ex-ministro da economia no governo FHC).

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

124 bilhões de dólares e uma conta chamada “Tucano”


124 bilhões de dólares e uma conta chamada “Tucano”
 
Antes de o leitor relembrar (ou conhecer) o caso escabroso que segue, é importante reafirmar que a podridão de antes não inocenta ninguém, mas serve pra provar a hipocrisia dos que hoje posam como arautos da moralidade


Caso Banestado: Govermo FHC, juiz Sérgio Moro, Doleiro Alberto Yousseff (Imagem Pragmatismo Político)
Armando Rodrigues Coelho Neto, GGN

Aconteceu na década de 90. US$ 124 bilhões saíram do Brasil através das chamadas contas CC5. Há quem diga que, na época, nem as reservas brasileiras em moeda americana chegavam a esse total. O banco usado para a roubalheira foi o Banestado e o ralo era Foz do Iguaçu/PR, cidade onde antes durante ou depois foi trabalhar o tal “Japonês da Federal”, que nada tem a ver com a história.

Também meio antes, durante ou depois – a essa altura pouco importa, aconteceu a CPI dos Precatórios, que desaguou numa tal Operação Macuco da Polícia Federal, que entrou em cena e descobriu que pelo menos US$ 30 bilhões daquela cifra foram remessas ilegais.

Durante as investigações, a Procuradoria da República ia junto aos órgãos oficiais, perguntava uma coisa, respondiam outra. Refazia o pedido e a resposta vinha incompleta. E aí, ela radicalizou: pediu a quebra de sigilo de todas as contas CC-5 do País. Sugiro ao leitor uma visita ao Google para entender melhor essas tais contas.

A PF descobriu que o dinheiro passava por Nova Iorque (EUA), uma roubalheira que apesar de gigante, seria apenas a ponta de um iceberg. Entre os suspeitos estavam empresas financiadoras de campanha, alto empresariado em geral e membros da alta cúpula do governo brasileiro da era Fernando Henrique Cardoso.

O rombo era tamanho que os promotores americanos, abismados com o volume de dinheiro que havia transitado por aquela cidade, quebraram sigilo bancário em Nova Iorque. A equipe da PF foi reconhecida e ganhou a simpatia até do enfadonho e burocrático Banco Central (EUA), além da FBI (Polícia federal americana).

O mecanismo descoberto era e é um traçado muito bem articulado, de forma que os verdadeiros nomes dos titulares não possam aparecer. Desse modo, num passe-repasse, plataformas financeiras e coisa e tal, os trabalhos para ocultação envolvem ou envolveriam até cinco camadas ocultadoras.

Com esse grau de sofisticação, investigar seria percorrer o complexo caminho inverso, mergulhar nas tais camadas, até que se chegar aos verdadeiros titulares do dinheiro.

Estava tudo tão bom e tão bem protegido, que a prática consolidou-se, e como a corrupção no País é endógena, além de “lubrificar economias” (a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE que o diga!) as ratuínas foram abrindo a guarda. Com impunidade garantida, alguns grandes nomes relaxaram e apareceram por descuido.

Haja descuido! Surgiu até um óbvio – “Tucano” e um aleatório “Serra”. Tão óbvio que deixou perplexo não só o delegado que coordenava o trabalho, mas também os procuradores. Mero ato falho e primário, em tempos de abertura de guarda, de “engavetadores gerais da República”. Tempos de gente honrada e das panelas silenciosas, da dita “grande mídia” calada, dos arautos da moralidade hodierna.

Há uma entrevista no Youtube com o delegado federal José Castilho Neto, coordenador da Operação Macuco. Sem fulanizar ou partidarizar, ele reclama da oportunidade aberta e perdida, naquela época, para o enfrentamento da banda podre, seja da política, seja do empresariado. O Cônsul do Brasil, que trabalhava em Nova Iorque, teria dito para as autoridades americanas que a cabeça do delegado Castilho “estava a prêmio”. Só não disse quem seria o pagador, se os protegidos ou os protetores.

Castilho foi afastado. E o leitor a essa altura deve estar se perguntando: por que esse saudosismo tanto tempo depois?

Primeiramente para lembrar que a podridão de antes não inocenta ninguém. Mas serve pra provar a hipocrisia dos que hoje posam como arautos da moralidade. Mostra o cinismo dos paneleiros e demonstra com cristalina clareza a postura golpista da dita “grande imprensa”.

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Em segundo lugar, para não ter que retornar aos tempos do Brasil Colônia ou da mordaça da ditadura militar, eu simplesmente gostaria de reafirmar que esse caso escabroso, narrado lá em cima, ocorreu na era do impoluto Fernando Henrique Cardoso. Sabe qual emissora de televisão de maior audiência? TV Globo. Sabem quem era o doleiro? Alberto Youssef. Sabem quem era o juiz? Sérgio Moro.

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