Na Copa de 78, o ‘conselho’ do ditador Geisel ao artilheiro Reinaldo Publicado por Fernando do Valle
O ídolo do Atlético Mineiro, Reinaldo, sempre comemorava os gols reproduzindo o gesto do movimento Panteras Negras que lutava contra o racismo nos Estados Unidos: o artilheiro erguia o braço e cerrava o punho. Convocado para a Copa de 78, em reunião antes do embarque para a Copa na Argentina, o ditador Geisel, incomodado com o misto de protesto e comemoração de Reinaldo, o ameaçou no Palácio Piratini em Porto Alegre: “quem cuida da política é a gente, você cuida de jogar futebol, deixa a política pra gente”.
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Reinaldo e sua celebração de protesto (fonte: revista Placar) |
No primeiro jogo da Copa contra a Suécia, Reinaldo marcou o gol brasileiro (o jogo terminou em 1 a 1) e não se intimidou com as ameaças: BRAÇO EM RISTE na comemoração. Mesmo tendo marcado, Reinaldo foi substituído por Roberto Dinamite nas partidas seguintes. Além dos problemas políticos, Reinaldo também não estava 100% fisicamente. O Brasil terminou a Copa em terceiro lugar, ficando fora da final pelo saldo de gols. Essa foi a única participação do jogador em uma Copa do Mundo.
Anos mais tarde, Reinaldo confessou que recebeu durante a Copa um envelope com informações sobre a Operação Condor (aliança entre ditaduras sul-americanas para oprimir opositores). O envolvimento político do jogador trouxe consequências. Em entrevista à Revista Placar em 2012, Reinaldo desabafou: “o corpo fascista do país começou a me minar. Não só moralmente, mas com assédio de todo o tipo. Falavam que eu era cachaceiro, maconheiro, viado. Inventaram que eu era gay por causa da amizade com o radialista Tutti Maravilha [radialista e produtor musical]. Linchamento moral. Eu não tinha partido, sindicato, nada. Fui massacrado sozinho”.
Além disso, as lesões prejudicaram o jogador. Perseguido de forma impiedosa pelos zagueiros, Reinaldo sofreu muitas lesões, principalmente no joelho. Depois que parou de jogar, ele enfrentou problemas com a cocaína semelhante a outro ídolo rebelde dos gramados, Maradona. Na mesma entrevista, o jogador afirmou que não dava um tiro há mais de 15 anos e que não iria mais falar em drogas já que elas não faziam mais parte de sua vida.
Outro craque que envolveu-se em assuntos políticos e também comemorava seus gols evocando a mensagem dos Panteras Negras, Sócrates popularizou ainda mais o gesto nos gramados. É assim que os torcedores lembram do Magrão, que morreu em dezembro de 2011
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