segunda-feira, 13 de novembro de 2017

O PAPEL HIGIÊNICO ACABOU? USE A SUA CTPS*

Sábado passado, dia 11/11, um dia histórico, de vitória para a burguesia brasileira, começou a vigorar a Reforma Trabalhista.
Estão de parabéns os patrões, as grandes empresas e os coxinhas, paneleiros, alienados e indiferentes, que se deram este presente, estendido aos que se opuseram.
Durante todo o tempo em que o projeto tramitou, eles disseram que os trabalhadores não perderiam nada, pelo contrário, ganhariam.
A partir de hoje, abordarei as mais polêmicas modificações, vendidas como melhorias para os trabalhadores.
Seus direitos

Começo pela desoneração fiscal das gorjetas, comissões, gratificações, prêmios, diárias, auxílios... Que os doutores da lei justificaram dizendo que ficará mais dinheiro no bolso do trabalhador, o que significaria aumento real.
Só não disseram que não incide tributação porque não será mais considerado salário.
Vamos trabalhar com números, para que os coxinhas, paneleiros e demais partidários disso entendam.
Você, beócio fantasiado de Neymar, lê um anúncio: Precisa-se de vendedores de gêneros alimentícios e bebidas, no atacado. Paga-se bem.

Chega lá e o futuro patrão joga as cartas na mesa: pagamos meia jornada de fixo, meio salário mínimo, mais 2% de comissão sobre gêneros alimentícios e 3,% sobre bebidas. Damos auxílio refeição, de R$ 20,00 por dia e temos uma meta de vendas mensal, por vendedor, que, se ultrapassada, gera uma gratificação de R$ 300,00. Este mês a meta é de R$ 100 000,00 em vendas. Sempre que o Sr. sair do município, para fazer praça em outro, tem mais R$ 20,00 de diária. É o que temos a oferecer, meu amigo.

E você aceita. E começa a trabalhar.
O fixo é de meia jornada, mas claro que você vai trabalhar uma jornada inteira, se não trabalhar mais, para garantir mais vendas.
Terminado o primeiro mês, você vendeu R$ 45 000,00 de bebidas e R$ 60 000,00 de gêneros alimentícios e foi a outro município 4 vezes, uma vez por semana. Quanto você receberá?

Vamos lá:
3% de 45 000 = 1 350 (bebidas)
2% de 60 000 = 1 200 (gêneros alimentícios)
Como o mês tem, em média, 22 dias úteis, você ganhou mais 440 (20 x 22), de auxílio refeição.
Mas você saiu do município 4 vezes, então mais 80 (4 x 20)
Como 45 000 + 60 000 dá mais de 100 000, a meta do mês, você ganhou a gratificação de 300
E só falta o fixo, meio salário mínimo, que arredondaremos para 500
Quanto você ganharia bruto?
1 350 + 1 200 + 440 + 80 + 300 + 500 = 2 870
Então o seu rendimento bruto foi de R$ 2 870,00
Pela lei anterior você pagaria 11% de Previdência Social sobre o bruto, recebendo, líquido, R$ 2 583,00.

Agora, com a Previdência incidindo só sobre o fixo, você receberá R$ 2 815,00, uma beleza, não é, 232 reais a mais, um chuá.
Já o seu patrão teria que pagar 20% sobre o bruto, de Previdência Social (R$ 574,00) , e mais 8% de FGTS, também sobre o bruto. (R$ 229,00)
Então, sobre o que lhe pagou, pela lei antiga, o seu patrão teria que pagar R$ 803,00 de impostos.
Mas, após a reforma, ele só tem que pagar sobre o seu fixo, o que dá R$ 140,00, incluindo Previdência Social e FGTS, o que quer dizer que ele embolsou R$ 663,00, mais que um chuá pra ele, porque ele vai levar mais que o dobro que você (procure se informar o que é o conceito marxista de mais valia)

Claro que isso vai quebrar a Previdência Social, e aqui reside a necessidade da reforma de Temer na Previdência: não está quebrada, vai quebrar, se você não a sustentar, trabalhando até a morte.
Para facilitar os cálculos, vamos imaginar que você trabalhe exatamente um ano (12 meses) ganhando a mesma coisa, em todos os meses, e o patrão lhe demita.
Você faz as contas: o mês trabalhado(mt), um mês; o aviso prévio(ap), mais um mês; as férias(fer), mais um mês, décimo terceiro(13o), mais um mês; o FGTS, um mês mais a multa de 40%, se não tiver sido demissão por justa causa, e você vai na calculadora: 2 815(mt) + 2 815(ap) + 2 815(fer) + 2 815(13o) + 3 941(FGTS), o que quer dizer que no total você vai receber R$ 15 201,00, carai, uma bolada.

No dia combinado para receber você bota aquela camisa nova da CFF, o boné do MBL, mais feliz que tucano pousado em cofre público e vai receber.
Entra e lá estão o seu patrão, o advogado da empresa e um segurança parrudo.
O patrão começa: “o seu mês trabalhado”, e lhe dá R$ 500,00, ao invés do esperado R$ 2 815,00, e você pula, só isso? Eu ganhava quase três paus, doutor!
O senhor está enganado, o seu salário era de meio mínimo, o resto era adicional, não era salário, tanto que o senhor não pagou nenhum imposto sobre ele. Pega aí: 500 do mês trabalhado, 500 do aviso prévio, 500 das férias, 500 do décimo terceiro e a guia, pro senhor pegar os 700 do FGTS, assina aqui, dando quitação e afirmando ter nada a nunca mais reclamar.
Você hesita em assinar, e o advogado da empresa lhe alerta: o outro caminho é a justiça trabalhista, se o senhor não concordar, mas esta é a lei, as contas estão certinhas (e estão). Se o juiz confirmar essas contas, o senhor vai ter que pagar os honorários do seu advogado, os meus honorários e mais as custas processuais, do seu bolso, e você assina.

Você assina e descobre que se não tivesse havido a reforma pela qual você trabalhou, agora estaria com R$ 15 201,00 no bolso, mas está só com R$ 2 700,00, desolado, mais triste que o pinto do vovô.
Se você não fosse coxinha faria as contas e veria que, já que o que ele deixou de pagar à Previdência foi mais de 500 por mês, foi a Previdência que pagou o seu fixo.
Como a sua comissão estava embutida nos preços das mercadorias, quem as pagou foi os seus clientes.

E você retrucará: mas ele me indenizou.
Faça as contas do que ele deixou de pagar mensalmente, de Previdência Social e FGTS, e você vai ver que a diferença deu para ele pagar o seu fixo e ainda sobrou para ele pagar a sua indenização.
Na impossibilidade de privatizar o INPS, Temer estatizou as folhas de pagamentos das empresas.

Por Francisco Costa

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